
Tenho sentido preguiça quando penso em escrever. Talvez não seja preguiça; seja outra coisa que nem eu sei definir. Entretanto, toda vez que penso em começar um novo texto já imagino tantas coisas que podem ser ditas, outras que devem ser silenciadas, o cuidado com as palavras, meu julgamento e dos outros. Faço tantos "parafusos" que acabo relutando em iniciar o primeiro parágrafo.
Tenho paixão pelas palavras. Gosto de brincar com a composição das frases. Tornar cada parágrafo a expressão completa de um sentimento ou da defesa de uma ideia. Contudo, estou cada vez mais exigente comigo mesmo. Quem sabe essa exigência não se reflita necessariamente em qualidade, mas incomoda e me rouba o ânimo do simples ato de começar.
Recordo que, cinco anos atrás, quando comecei meu primeiro blog, pouco me importava com o tamanho do post. Também não tinha a ansiedade de desenvolver um raciocínio em toda a sua complexidade. Hoje, porém, sinto-me impelido a dar conta do que me propus a fazer. Não basta ser um ou dois parágrafos. Tenho que concluir. As ideias não podem ficar soltas.
Dia desses falava sobre isto com uma pessoa. Não recordo bem com quem dialogava. Acho que era com minha orientanda e amiga, Bianca Oliveira. Lembrava de uma entrevista que assisti anos atrás com João Ubaldo Ribeiro. O escritor contava que, no início da carreira, produzia uma crônica em 20, 30 minutos. Dizia, no entanto, que atualmente precisava de dois ou três dias para concluí-la, pois nunca se sente totalmente satisfeito com o resultado do texto.
Estou longe - muito longe - de ser um Ubaldo. Nem pretendo me equiparar ao mestre das letras. Ainda assim, esta sensação de incompletude toma conta. Antes de abrir a tela do computador, fico remoendo meus argumentos, organizando-os. Por vezes, desisto diante do cansaço da própria elaboração mental. Quando me atrevo, como agora, mesmo após iniciar um novo ensaio, tenho a impressão que está raso, fraco e que não traduz meu desejo interior, minha alma.
O que isto significa? Para você, caríssimo amigo e leitor, é provável que nada. Absolutamente nada. Em mim, gera uma certa frustração. Por outro lado, estimula o desejo de me conhecer e desafiar-me a superar as amarras que nós mesmos criamos diante de coisas que podem ser tão simples.